Episódio 1 - 3ª Temporada - Os imbróglios políticos e as tensões vindas de fora
Como eu vim parar aqui
Olá leitores,
Espero que vocês dois estejam bem.
É sempre mais difícil escrever para apenas duas pessoas porque o caráter fica muito mais pessoal.
Como vocês bem sabem, hoje, dia 21 de fevereiro de 2025 o Recado do Economista estreia aqui no Substack, mas ele nasceu em março de 2018.
Tivemos um período sabático ao longo de 2023 e voltamos com tudo em dezembro daquele ano.
E a partir de agora, estaremos aqui.
Pra vocês dois que me acompanham há mais tempo, espero que não se importem. Só achei que devia a vocês dois alguma explicação de como eu vim parar aqui e formalmente começar esse primeiro episódio desta 3ª temporada de Recado do Economista.
Dito isso, vou falar um pouco sobre as principais notícias da semana no mercado.
Vou me desculpar pela formalidade a seguir e ao poucos vou tentar me soltar novamente com vocês dois.
Acho que vocês merecem um bate-papo mais agradável.
A semana que passou foi marcada pelos sinais de desaceleração econômica no Brasil e um cenário internacional ainda volátil.
No Boletim Focus, pesquisa de divulgação semanal que mostra as projeções das instituições financeiras para a economia brasileira, as perspectivas de inflação continuaram subindo para os próximos anos, enquanto o PIB de 2025 teve mais uma leve revisão para baixo, refletindo o impacto da política monetária contracionista.
A Selic, que é a nossa taxa básica de juros, por sua vez, se mantém projetada em 15% para este ano, com expectativas estáveis em 12% para 2026 e 10% para os anos seguintes.
A principal mudança na precificação dos ativos veio da percepção de que o crescimento econômico pode ser mais fraco do que o esperado em 2025 e 2026, o que reforça a possibilidade de ajustes na política monetária no futuro, isto é, um possível reinício no processo de corte de juros.
No cenário político, a pesquisa Datafolha revelou uma queda expressiva na aprovação do presidente Lula, acentuando as incertezas sobre o futuro da gestão e a corrida eleitoral de 2026.
O mercado reagiu com otimismo à possibilidade de um novo ciclo político e já começa a atribuir maior probabilidade a um candidato pró-mercado, mesmo sem um nome definido.
O Ibovespa ultrapassou os 128 mil pontos e o dólar recuou para abaixo de R$ 5,70, enquanto os juros longos perderam prêmios.
Paralelamente, os rumores de que Lula poderia não disputar a reeleição reforçaram essa leitura pró-mercado, e o nome de Tarcísio de Freitas começa a ganhar mais força como potencial candidato reformista, ainda que essa leitura ainda seja precoce.
Nos bastidores da Faria Lima, é um consenso que uma disputa entre Haddad x Tarcísio seria mais positiva do que uma eventual disputa entre Lula e outro membro da família Bolsonaro, dada a iminente inelegibilidade de Jair.
Confirme o calendário eleitoral se aproxima, o mercado irá atribuir mais peso a dinâmica eleitoral e às pesquisas de opinião.
Os indicadores de atividade econômica seguem apontando para uma desaceleração, que é uma consequência natural dos juros mais altos.
O IBC-Br, proxy do PIB divulgada pelo Banco Central, mostrou queda de 0,7% em dezembro, reforçando a tendência de arrefecimento da economia.
As vendas no varejo também surpreenderam negativamente, com retração de 1,1% no varejo ampliado.
A última leitura do IPCA veio marginalmente abaixo do esperado, mas foi influenciada por fatores pontuais, como o bônus de Itaipu.
A inflação subjacente, que exclui itens mais voláteis, segue elevada, principalmente no setor de serviços.
Esse cenário reduz a pressão por um aperto monetário mais agressivo e pode abrir espaço para um debate futuro sobre cortes na Selic no segundo semestre.
Mas antes disso, o Banco Central deve levar o juro para 15% ao ano ou até mais.
No exterior, o Federal Reserve divulgou a ata de sua última reunião de política monetária, reforçando uma postura cautelosa.
O documento destacou a necessidade de avanços mais consistentes no combate à inflação antes de qualquer corte de juros.
Os mercados reagiram bem à previsibilidade da política monetária americana, com o S&P 500 renovando máximas históricas.
Já as tensões comerciais voltaram ao radar com as novas tarifas impostas por Donald Trump, mas a sinalização de que a aplicação será gradual reduziu parte do estresse inicial.
No entanto, a possibilidade de novas medidas protecionistas segue como um fator de risco para o Brasil, que pode ser afetado por políticas de reciprocidade tarifária.
Por fim, o governo brasileiro segue enfrentando dificuldades na gestão fiscal.
O ministro Fernando Haddad afirmou que um orçamento equilibrado é condição para levar inflação e juros para baixo, mas a ausência de medidas concretas para conter o crescimento das despesas segue preocupando o mercado.
Além disso, a suspensão temporária de linhas de crédito subsidiadas do Plano Safra, por falta de aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) 2025, adicionou mais um ponto de incerteza na política econômica do governo.
O Planalto parece cada vez mais pressionado por desafios econômicos e políticos simultâneos, o que deve manter os mercados atentos a qualquer sinal de mudança na estratégia fiscal nos próximos meses.
Para vocês dois que me leem, eu sigo vendo boas oportunidades em diferentes perfis de risco.
Para você que é conservador, o dólar abaixo de R$ 5,70 abre espaço para dolarização de parte do portfólio, enquanto na renda fixa os pós-fixados seguem pagando mais de 1% ao mês, sem volatilidade.
Vale aproveitar.
Os títulos atrelados à inflação continuam oferecendo taxas reais acima de 7%, garantindo retornos atrativos para os próximos anos.
Não é pouca coisa e não vai oferecer retorno tão bom por muito mais tempo.
E para você, que é mais arrojado, continuamos otimistas com a bolsa brasileira, dado os fortes resultados apresentados que as empresas locais tem apresentado e os níveis de valuation atrativos no momento.
Um beijo no coração de cada um de vocês. Fiquem a vontade para reclamar.
Me sigam em @martin.economista.
Muito bom!