O pós-carnaval dos meus dois leitores assíduos tem sido estranho.
Tomados pela ressaca do período em uma semana que mal começou e já está terminando, eles ainda não assimilaram muito bem a ideia de que a newsletter de habitual leitura agora segue um rumo solo e desvinculado de uma grande instituição.
A verdade é que nem eu, nem eles, sabemos se haverá alguma mudança no que sou capaz de escrever aqui, mas sinto, na condição de um lobo solitário, que meu compromisso com eles agora é ainda maior.
Quando eles se entediarem com a leitura, ao menos quero que eles julguem ela útil.
Isso também é difícil quando lembro que eles pensam muito diferente acerca das coisas da vida.
Para um o mundo é perigoso. Para o outro, qualquer chuvinha se torna motivo para bradar discursos de que agora é hora de acelerar na chuva.
Modos de ver a vida. Estão igualmente certos.
A realidade, como sempre, está em algum ponto entre os dois
Como se animar com o Brasil ou com a bolsa brasileira ao ver a inflação de alimentos tomando conta das manchetes de jornal, a taxa Selic ameaçando ir a 15%, um quadro fiscal que segue deteriorado e sem perspectivas de ajuste?
De forma antagônica, podemos pensar que todas essas informações conhecidas já estão embutidas nos preços atuais e que, dentro de uma distribuição de probabilidades, há muito mais espaço para melhorarmos do que piorarmos.
O Brasil está barato demais para ser ignorado.
Os preços atuais remetem a dois momentos de grande crise: a quebra do Lehman Brothers em 2008 e o colapso dos mercados na pandemia de março de 2020.
Lembram também aquele janeiro de 2016 quando enfrentamos a maior recessão da história da república.
Ora, com exceção de 2008 que me recordo apenas da minha formatura no 3º ano do Ensino Médio, lembro vividamente que em 2016 e 2020 se precificou o fim dos tempos.
O que veio depois é história.
Hoje sinto que com o advento das redes sociais, a democratização do mercado financeiro, o aumento de opções dentro da indústria e o consequente aumento de ansiedade e imediatismo das pessoas, tudo está mais sensível.
O pessoal entrou em um modo de “passageiros da agonia” como se fosse o fim do Brasil.
Ao meu ver, há latente exagero.
Meu leitor mais pessimista até concorda com esse ponto de vista, mas, corretamente, retruca aqui na minha caixa de e-mail que não dá para confiar que um país que vai tentar novamente reconstruir a indústria naval tem como dar certo.
Ele tem um ponto, mas, como já pontuado, isso já está embutido nos preços atuais.
Com a bolsa rondando os 125 mil pontos, dólar a R$ 5,75 e Selic indo a 15%, daria para todos serem felizes.
O desistente do Brasil compra dólar a esse preço e ainda tem uma boa margem até aqueles R$ 6,20 que vimos ano passado.
O cético que aqui permanece, pode se acomodar na renda fixa: com Selic alta, qualquer pós-fixados que renda próximo de 100% do CDI, isento ou não, já vai fazer a alegria desse investidor.
Os mais medrosos, mas com horizonte de investimento mais dilatado, podem comprar títulos públicos pagando inflação + 7,5% ao ano.
Veja aqui com os próprios olhos, está muito fácil investir bem.
Os otimistas podem comprar ações de empresas que entregam lucros e dividendos recordes, sem dívidas, com concorrência baixa sendo negociadas a preços de liquidação, como se o mundo fosse acabar.
Algo me diz que quem está obcecado pelo tech americano e pelo crypto hype vai errar a mão por acreditar que árvores crescem até o céu.
O que é moda nunca é barato e vice-versa.
Falar mal do Brasil sempre foi muito fácil.
Ser pessimista sempre denota mais erudição e ser otimista sempre denota mais ingenuidade.
Aos meus dois leitores, reforço a minha opinião de que o ouro dos próximos 10 anos está ao sul do Equador.
Lá fora, me parece que veremos um final de ciclo e o mercado já abre possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos.
Não é algo que me convida apostar contra, mas me deixa tranquilo em não ter uma opinião sobre os rumos da atividade econômica naquelas bandas.
Falarei mais sobre eles em breve por aqui também.
Por ora, seguiremos curtindo a ressaca dessa semana limbo.
Seguiremos assimilando que o meu ciclo lá na outra encarnação acabou.
O carnaval passou.
Mas eu… eu ainda estou aqui.
Um beijo no coração de cada um de vocês.
Ps.: um destaque para essa bela foto na época em que Central do Brasil foi gravado.