Renda Fixa não é Disney, Banco Master e 3 ETFs recomendados
Ausência de volatilidade não é ausência de risco
Antes de começar o artigo, queria divulgar um relógio elaborado por um dos analistas mais renomados do Brasil, meu amigo Marcelo Fayh, com quem tive o privilégio de trabalhar junto durante 3 anos.
Ele selecionou 3 ETFs para qualquer investidor construir uma carteira diversificada de forma simples.
Super recomendo que vocês baixem o relatório para ver as recomendações (gratuitas, por sinal) e conhecer de perto esse baita trabalho que o Fayh vem fazendo.
Agora vamos falar do assunto que roubou as manchetes nos últimos dias.
Diante da polêmica envolvendo as negociações de compra do Banco Master, muita gente veio me perguntar minha opinião sobre o assunto de maneira geral e até mesmo se valeria a pena investir nos CDBs do banco, haja vista uma remuneração oferecida acima de 140% do CDI.
Um retorno que parece ótimo aos primeiros olhos, esconde os riscos ocultos da renda fixa e um problema comum do investidor que prefere assumir (muitas vezes de forma desavisada) muito risco sem volatilidade em detrimento de menos risco com alguma volatilidade.
Mas para falar de tudo isso eu trarei um cenário mais amplo. Vou falar um pouco de Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master; a história do banco; a possível venda ao BRB; os CDB que oferecem alta rentabilidade com, em tese, pouco risco, e, por fim, falarei um pouco sobre o excesso de expectativa que os investidores colocam sobre investimentos em renda fixa, sobretudo, crédito privado de forma geral.
Bom, vamos aos tópicos.
Daniel Vorcaro: um banqueiro diferentão
Ao contrário da figura típica do banqueiro reservado, Daniel Vorcaro decidiu trilhar um caminho bem diferente.
Com apenas 40 anos, o mineiro natural de Belo Horizonte tem se tornado figura frequente nos corredores da Faria Lima e nas colunas sociais do país.
Filho de Henrique Vorcaro, um conhecido nome do setor imobiliário mineiro, Daniel herdou o gosto pelos grandes empreendimentos, mas decidiu ampliar o escopo da família.
Em vez de seguir apenas no setor de incorporação, resolveu construir um império financeiro com a mesma ousadia de seus antecessores.
Daniel não esconde seu estilo de vida luxuoso: festas milionárias, mansões de centenas de milhões, jato particular e uma presença marcante no futebol como um dos principais investidores da SAF do Atlético Mineiro.
Por trás do verniz de opulência, há também um perfil de risk taker.
Alguém que está disposto a correr riscos elevados em busca de retornos exponenciais nos negócios.
Foi com essa mentalidade que ele assumiu o controle do antigo Banco Máxima e deu início à transformação que levaria à criação do Banco Master.
Uma breve história do Banco Master
Quando Vorcaro assumiu o Banco Máxima, a instituição era pequena, com um patrimônio líquido de apenas R$ 30 milhões.
Daniel não apenas capitalizou o banco, mas também reorientou seu modelo de negócio.
Zerar a carteira de crédito plain vanilla foi o primeiro passo.
Depois, focou em nichos pouco explorados, como o crédito consignado para servidores, através da aquisição da Credcesta.
Criou um modelo de distribuição "sniper", em vez de volume, buscando margens maiores e operações de alto retorno.
Vieram então aquisições de ativos mais sofisticados.
O banco comprou o Fasano Itaim, o banco Voiter, a Flytour e uma seguradora.
Em 2022, expandiu para a Europa com a compra do BNI Europa, um banco em Lisboa com balanço enxuto, mas limpo, para servir como porta de entrada no continente.
Também fez movimentos ousados em private equity e em reestruturação de empresas em dificuldades.
Em 2024, a aquisição do Will Bank adicionou mais de 6 milhões de clientes e uma camada de tecnologia que o Master não tinha.
A base de clientes do varejo ultrapassou 10,5 milhões, e o banco consolidou-se como uma espécie de hub financeiro para classes menos bancarizadas, misturando crédito com tecnologia e seguros.
A venda ao BRB: um novo capítulo e os bastidores da negociação
Recentemente, o Banco de Brasília (BRB) anunciou a compra de 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do Banco Master.
Com isso, passou a deter 58% do capital total.
A transação, que ainda aguarda aprovação do Banco Central e do Cade, foi avaliada em R$ 3,5 bilhões, a um múltiplo de 0,75x book.
Embora o BRB passe a ser o acionista majoritário, Daniel Vorcaro continua no controle da operação.
O BRB traz para a mesa uma capacidade de funding mais barata (89% do CDI, contra 120% do Master), o que permitirá uma redução significativa no custo de captação do Master.
A expectativa é que o custo do funding caia para 108% do CDI e possa atingir patamares abaixo de 100% em dois anos.
A transação também cria um conglomerado com R$ 10 bilhões em patrimônio líquido e R$ 140 bilhões em ativos.
Paralelamente, Vorcaro busca agora um novo sócio para a parte segregada do grupo, que inclui o banco de investimento, a Voiter, precatórios e participações acionárias.
O BTG Pactual aparece como um possível interessado, especialmente na vertical de crédito consignado.
A estrutura de capital e o futuro dessa parte ainda estão sendo definidos.
E a vida do investidor com tudo isso: CDBs de alto retorno, FGC e o risco escondido da renda fixa
Durante a ascensão do Banco Master, uma das grandes iscas para atrair investidores foi a oferta de CDBs pagando entre 140% e 150% do CDI, muito acima da média de mercado.
Muitos investidores, confiantes na proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), enxergaram esses títulos como uma oportunidade sem risco.
Afinal, não há nada mais tranquilo do que um papel de renda fixa, certo?
Errado.
Sob uma perspectiva talebiana, essa sensação de segurança é precisamente o que torna o sistema frágil.
A ausência de volatilidade aparente mascara riscos profundos.
O investidor comum acredita estar protegido porque não vê variação nos preços.
Mas, como Nassim Taleb ensina, o problema do cisne negro não é a frequência, e sim o impacto.
O risco de contraparte é real.
E quando a instituição que emite esses títulos passa a ter sua estabilidade questionada, mesmo que o FGC cubra até R$ 250 mil por CPF, a liquidez seca, a confiança evapora, e o mercado trava.
Isso está acontecendo agora com os CDBs do Master.
Investidores que buscaram retorno elevado, sem entender o risco embutido, estão descobrindo que não existe almoço grátis na renda fixa.
O fim do ciclo do crédito privado e os novos tempos da renda fixa
Nos últimos dois anos, o crédito privado viveu seu auge.
Em 2024, as taxas ainda estavam robustas, e o apetite dos investidores por papeis de empresas foi intenso.
Mas, como apontam diversas gestoras em reportagens retiradas do Valor, esse ciclo chegou ao limite.
A forte demanda reduziu os prêmios, e os títulos atingiram em setembro de 2024 o menor patamar de remuneração em cinco anos.
Henri Rysman, da BNP Paribas Asset, e Ricardo Ventrilho, da MAPFRE, destacaram que 2025 será o ano da seletividade.
Não haverá espaço para aventuras em papéis com riscos excessivos ou liquidez duvidosa.
O que antes era uma corrida por yield agora será uma busca por resiliência.
Em outras palavras, a renda fixa está voltando a ser o que deveria ser: um instrumento de proteção e equilíbrio, e não uma alavanca disfarçada.
Renda fixa não é Disneylândia.
O caso do Banco Master é um microcosmo de um mercado que confundiu estabilidade com segurança.
É uma lição para todos que colocaram a volatilidade como vilã e acabaram subestimando os riscos escondidos onde menos se espera.
O mundo não é linear, e os ativos também não deveriam ser.
Mesmo com garantias do FGC, procure sempre entender como opera o emissor e desconfie de ofertas de retorno muito acima da média.
Uma máxima sempre vale: quanto maior o retorno oferecido, maior é o risco embutido.
Ausência de volatilidade não é ausência de risco.
Tomem cuidado. Sempre.
Um dos meus dois leitores acha o mundo perigoso. E ele é de fato, sobretudo onde tudo parece estar bem.
Um beijo no coração de cada um de vocês.
Muito bom! Para correr risco já está a renda variável. A renda fixa não é onde se deve buscar a grande tacada!