Rumo a 2038 (ou antes): estamos diante de um super-ciclo da bolsa brasileira?
Vou plantar uma semente na cabeça dos meus dois leitores
Tenho dois leitores assíduos.
Um deles é um incondicional fã do investimento em bolsa de valores.
O outro, um cético.
Pessoalmente, acho que ambos estão certos dadas as premissas das quais partem.
Mas acredito que ambos vão gostar de ver uma pequena simulação que fiz aqui.
Particularmente, eu estou otimista com a bolsa brasileira.
Os motivos para tal são inúmeros e não será hoje que vou enumerá-los, mas um deles (e talvez o principal) é a natureza cíclica dos mercados.
Dito isso, vou trazer algumas estatísticas aqui.
Antes, alguns disclaimers:
1) Esse estudo é uma simulação simples com algumas premissas. Não se tratam de modelos matemáticos sofisticados ou projeções do futuro;
2) Obviamente, não há nenhuma garantia do que os cenários a seguir irão se concretizar;
3) O estudo a seguir não leva em conta nenhuma variável qualitativa (situação do cenário macro, situação das empresas listadas, humor do mercado, etc.) ao analisar de cenário, mas tão somente simula as intensidades dos ciclos da bolsa brasileira;
4) Retornos passados não são garantia de retornos futuros e o estudo a seguir não é uma recomendação, mas tão somente um entre vários argumentos que me fazem otimista com bolsa brasileira.
Se você e os meus dois leitores mais assíduos estiverem tranquilos com isso, podemos dar início ao estudo.
Primeiro, vamos pensar na bolsa brasileira na perspectiva de um gringo.
A bolsa brasileira sobe e desce por conta das movimentações do gringo, que compra e vende os nossos ativos.
O fluxo que impacta nos preços, conjuntural e estruturalmente, vem do fluxo de fora.
Se é esse agente que gera as flutuações de maior impacto no curto prazo e longo prazo, partiremos dessa premissa.
Por isso, vamos olhar para o Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, em dólar.
Para facilitar as contas, vamos usar o ponto de partida de um Ibovespa em 120 mil pontos (no momento em que escrevo está 125 mil) e um dólar de 6 reais (no momento em que escrevo está R$ 5,73), que resultaria em um Ibovespa dolarizado de 20 mil pontos (21,8 mil pontos nos preços de hoje).
Isso já embute a informação que estamos em um ciclo de alta do Ibovespa há 5 anos.
Mas como sabemos disso?
Basta olhar o último ponto em que o Ibovespa em dólar parou de cair.
A mínima do Ibovespa em dólar já foi feita em março de 2020, com o Ibovespa a 60 mil pontos e dólar a 5,90 no estouro da pandemia.
Isso dá um Ibovespa em dólar em aproximadamente 10 mil pontos em um cálculo grosseiro.
Nesse momento, 5 anos após o ocorrido, podemos dizer que o Ibovespa em dólar já dobrou de valor, o equivalente a um retorno de aproximadamente 14,9% ao ano em dólar.
Nada mal, desafio você a encontrar algo parecido inclusive.
De toda forma, isso é o que passou.
Agora vamos simular um futuro com algumas premissas básicas.
O ponto de partida (ponto mínimo) do ciclo foi em março de 2020, com 10 mil pontos em dólar;
O ponto atual do ciclo é 20 mil pontos em dólar.
Em todo ciclo de alta do Ibovespa em dólar, o ponto máximo (topo) é de 15 a 35 vezes maior que o ponto mínimo (conforme gráfico da Enfoque) e conforme tabela resumo imediatamente abaixo (elaboração própria).
Dadas as premissas, vamos a algumas conclusões algébricas.
Perceba que o retorno médio anual variou entre 67% e 156% em dólar, ao passo que estamos evoluindo a uma "modesta" taxa de 15% ao ano.
Se a mínima do ciclo foi marcada em 10 mil pontos em dólar e o Ibovespa em dólar máximo de cada ciclo varia em 15 a 35 vezes o ponto mínimo, isso quer dizer que no ciclo atual, o ponto máximo será atingido em um patamar entre 150 mil a 350 mil pontos, sim, EM DÓLAR.
Ou seja, a uma cotação constante de R$ 6,00 por dólar, estaríamos falando de um Ibovespa variando entre 900 mil pontos e 2,1 milhões de pontos, caso repetíssemos a intensidade do maior ciclo.
Sim, eu sei que soa um tanto quanto absurdo, mas vamos relaxar um pouco essas hipóteses.
Vamos supor que não chegaremos a marcar nem o nosso pior ciclo e que o topo do Ibovespa em dólar será de 130 mil pontos.
E vamos supor também que a velocidade do ciclo seja bem menos intensa que as demais.
A minha sugestão é uma valorização média de 15% ao ano (taxa média atual desde o início do ciclo), o que nos levaria para o topo do ciclo somente em 2038.
Ou seja, daqui a cerca de 13 anos chegaríamos a marca do Ibovespa em dólar de 130 mil pontos.
O índice Bovespa marcará esses 130 mil pontos e será multiplicado pela cotação do dólar na data em questão. Exemplo: se o dólar estiver em R$ 5,00, veríamos o Índice Bovespa em 650.000 pontos.
Mas, vamos entrar em um consenso aqui: até hoje, não houve um ciclo tão longo assim do Ibovespa em dólar.
Seria algo totalmente inédito ver 18 anos de Ibovespa em dólar valorizando (2020 a 2038).
Hoje, em 2025, estamos no 5º ano de ciclo.
Podemos pensar que este ciclo irá durar mais 3, 5, 10 ou até mesmo mais os 13 anos que mencionei.
E poderíamos pensar que o Ibovespa em dólar irá parar de subir em algo entre os 130.000 pontos e 350.000 pontos.
A partir da combinação de prazos e pontuação máxima, podemos chegar a taxa de retorno composta média desse ciclo.
Para você mesmo simular o que seria razoável para você, eu fiz uma tabela de sensibilidade que nos diz o seguinte:
Partindo dos 20 mil pontos em dólar atuais, escolha o ano de final do ciclo e qual a pontuação do final do ciclo e, com isso, você terá a taxa anual média de retorno do Ibovespa em dólar.
Como vimos no passado, nos ciclos anteriores o Ibovespa em dólar teve taxas anuais de retorno entre 67% e 156% ao ano.
Como vimos na simulação, mantendo a taxa modesta de 15% ao ano supondo que chegaremos somente a 130.000 pontos em dólar, findaríamos o ciclo em 2038.
Qualquer simulação intermediária pode ser calculada através da tabela.
Historicamente, os ciclos só podem ser explicados após acontecerem e os motivos que levam a eles são sempre inconcebíveis a priori.
No último ciclo, entre 2002 e 2008, o Ibovespa se valorizou 21 vezes em dólar, indo dos 2.300 pontos (Ibovespa em 9 mil pontos com dólar a R$ 3,90) para 48.600 pontos (Ibovespa em 73.000 pontos com dólar em R$ 1,50 - saudades!).
O início do ciclo datou da primeira eleição de Lula e findou na Crise Financeira Global que iniciou com a quebra do banco Lehman Brothers.
No período, um grande boom de commodities ajudou o Brasil a atrair dólares, o que permitiu o governo controlar a inflação e reduzir juros de maneira sustentável, mantendo os pilares do tripé macroeconômico (metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário).
Internamente, políticas de impulsão ao crédito e consumo aqueceram a economia e ajudaram a dar fôlego ao ciclo.
E agora? Para onde vamos?
Pensa aí e me responda você mesmo.
Um beijo no coração de cada um de vocês.