Selic em 14,25%. Rumo aos 15%?
O Copom foi claro na mensagem a abriu margem para (ao menos) mais duas elevações no juro. Qual o cenário atual, o que nos espera e como isso impacta no dia-a-dia da população?
Hoje vamos falar sobre a decisão do Copom da semana passada.
Eu sei, a um primeiro momento pode parecer um tema chato. E, para ser bem sincero, talvez ele até seja um pouco chato.
Mas, acredite, ele é extremamente importante a vida dos poucos que me leem aqui, mesmo que você não acompanhe o mercado de perto.
Os juros que o Banco Central define mexem com o custo do seu financiamento, com o rendimento dos seus investimentos, com o valor do seu dinheiro ao longo do tempo.
Então, peço um minutinho da sua atenção.
Vale a pena entender o que aconteceu e, mais importante, o que pode acontecer daqui para frente.
O Copom decidiu elevar a Selic para 14,25% ao ano e deixou claro que esse pode não ser o fim do aperto monetário, na segunda decisão do Copom tendo Gabriel Galípolo (foto abaixo) como presidente.
O motivo para isso é simples.
A inflação não está cedendo como o esperado, as expectativas de mercado para os próximos anos pioraram, e o Banco Central não pode correr o risco de perder o controle da situação.
Os juros subiram porque os preços seguem subindo, o consumo continua forte e o mercado de trabalho ainda não deu sinais claros de enfraquecimento.
Além disso, o dólar, mesmo em queda, não ajudou, e a volatilidade cambial pode pressionar ainda mais a inflação nos próximos meses.
Hoje a principal preocupação do BC está nas expectativas de inflação a frente.
Quando o mercado começa a acreditar que a inflação vai seguir alta, todo mundo se antecipa: empresas repassam aumentos, consumidores compram antes de novos reajustes, contratos são fechados com prêmios maiores.
Isso cria um ciclo vicioso difícil de quebrar depois.
A alta da Selic é um sinal de que o BC está comprometido em evitar essa espiral inflacionária.
A ideia é esfriar a economia o suficiente para trazer os preços de volta ao controle.
Para as próximas reuniões, o Copom já avisou que pode reduzir o ritmo das altas, mas não há garantias de que o aperto vai parar tão cedo.
O cenário ainda está muito instável e incerto e o BC pode manter os juros mais altos por mais tempo.
E isso já está impactando o seu dia a dia.
Com juros altos, fica mais difícil tomar empréstimos, comprar uma casa, trocar de carro ou até parcelar uma compra grande.
Empresas, sentindo o aperto, começam a segurar investimentos e podem, eventualmente, cortar vagas.
Ao mesmo tempo, os preços dos produtos e serviços continuam elevados, e o poder de compra das famílias segue pressionado.
O Banco Central está agindo dessa forma porque não pode se dar ao luxo de errar, já que a perda de credibilidade da autarquia teria um custo elevadíssimo para o país.
Se for leniente agora, pode custar muito mais caro depois.
Por isso, na última Ata do Copom, o colegiado foi firme: a Selic deve seguir subindo, mas a um ritmo mais moderado e não se sabe ainda quando será pausado o ciclo de aumento de juros.
Tal fala abriu espaço para dois aumentos de 50 pontos-base da Selic nas reuniões de maio e junho, o que deve levar a taxa para além dos 15% ao ano.
Para os investimentos, o cenário traz desafios e oportunidades.
Os títulos pós-fixados, atrelados ao CDI, ficaram ainda mais atrativos, já que agora pagam mais.
Quem busca segurança pode aproveitar essa fase para garantir boas rentabilidades sem correr risco.
Já os papéis indexados à inflação continuam sendo uma excelente alternativa, especialmente no longo prazo, já que protegem o investidor da corrosão do poder de compra e ainda estão oferecendo um bom juro real.
Na bolsa, o cenário é um pouco mais complexo.
O mercado ainda sofre com os juros elevados, que tornam a renda fixa um concorrente forte.
Mas, ao mesmo tempo, muitas ações estão baratas.
Para quem tem paciência e apetite para mais risco, há boas oportunidades.
Só que, como sempre, a bolsa exige estômago.
Comprar barato não significa que o preço não pode cair mais antes de subir.
Outro ponto importante: com essa alta da Selic, o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos aumentou.
Isso pode ser positivo para o real, pois torna o país mais atraente para investidores estrangeiros.
Se esse fluxo de capital entrar, pode aliviar a pressão sobre o dólar e até ajudar no controle da inflação, via câmbio.
Mas tudo vai depender da percepção externa sobre o risco Brasil, que envolve também uma condução de política fiscal mais crível, conforme apontou a própria ata do Copom.
Agora, como poderia eu ajudar os meus dois leitores assíduos?
O primeiro, o investidor medroso, olha para essa alta de juros e já começa a se preocupar…
"Martin, o Brasil está indo para o buraco? Isso significa que o risco aumentou ainda mais?"
Não necessariamente.
O BC está subindo os juros justamente para evitar um problema maior lá na frente.
É um movimento preventivo e de forma alguma um sinal de colapso iminente.
O outro leitor, arrojado como sempre, vê essa decisão e já quer sair comprando tudo.
"Agora é a hora, já precificamos o pior!"
Pode até ser, mas calma.
O cenário ainda pede alguma dose de cautela.
Quem entra agora precisa estar ciente de que o ciclo de juros altos pode demorar para reverter.
Ao meu ver, passaremos a discutir o início do ciclo de queda de juros ali pelo 4º trimestre de 2025 ou 1º trimestre de 2026, ou seja, entre 6 e 12 meses.
Até lá, juros mais altos por mais tempo.
No fim das contas, o recado do Copom foi claro: a batalha contra a inflação ainda não acabou e não serão poupados esforços da autoridade monetária.
Qualquer dúvida, me chamem!
Um beijo no coração de cada um de vocês.